segunda-feira, 17 de março de 2008

Mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau...

Sempre fui muito mau em assuntos relacionados ao coração, sabe.
Aos 4 anos, inclusive, ao sofrer uma operação de sopro cardíaco, eu tava muito mais preocupada com as barbies e jogos novos que ia ganhar no hospital do que com o fato do meu coração continuar batendo ou não.
Mas, saindo da metáfora do músculo involuntário que pulsa por alguém, falemos do verdadeiro órgão responsável pelos sentimentos: o cérebro. Este sim, nunca me permitiu, de fato, ser uma pessoa acessível a sentimentos melosos. A primeira cartinha de amor que recebi no colégio, por exemplo, foi aos 12, ou 13 anos, de um menino bem mais velho da rua da minha avó que, sabe-se lá deus o que de tão bom conseguiu ver em mim. Convenhamos, eu era magricela, usava uns jeans que com toda certeza deformavam meu corpo e meu cabelo além de não ser vermelho estava constantemente assanhado e com algum enfeite altamente tosco. A única coisa que talvez me destacava, era o fato de falar demais e ser metida a líder dos grupos em que me metia, o que de certa forma agradava aos professores, e construía uma certa fama, mas isso era impossível do garoto saber, uma vez que ele estudava em outra escola.
Concluindo, ele mandou a carta por um professor em comum que tínhamos, e este, por sua vez, fez questão de espalhar pra toda a turma que havia um garoto apaixonado por mim. Pensam por um acaso que eu fiquei ruborizada, querendo me esconder num buraco enquanto toda a sala gritava o insuportável verso secular 'tá namorando, tá namorando!'? Santo engano. Eu me senti foi a última coca-cola no deserto, e tratei logo de correr pro pátio rodeada de colegas fuxiqueiras pra ler a carta -escrita em papel perfumado, cheia de adesivos e tudo o mais, em alto e bom tom e ficar logo conhecida no colégio como a menina que mesmo sem saber beijar - sim, eu não sabia. Desculpa aí se as crianças de hoje em dia já nascem com um manual prático de como beijar de língua, ok? - já tinha pretendentes. Logo depois que acabou o fuzuê, olhei a carta mais uma vez. Reli algumas partes bonitinhas. No último parágrafo, o garoto pedia que, embora eu não considerasse o fato de dar alguma chance a ele, eu guardasse a carta com todo carinho, pra sempre. E enquanto todas as outras garotas suspiravam, nem pensei duas vezes. Rasguei a carta em alguns pedaços e joguei no lixeiro mais próximo. Rasgado também deve ter ficado o coração, cérebro ou sei lá, do tal garoto que nunca teve sequer uma rsposta minha mesmo me vendo passar constantemente na rua da vovó. Ah vai. Papel perfumado e adesivos? Não vai dizer que esse cara bem que poderia ser gay?
De lá pra cá então, o histórico de estragos só tem aumentado.
Tô dizendo, nunca soube lidar muito bem com essas coisas de coração. Sou muito mau. Muito mau mesmo.

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