Eu sou égua de ter um blog

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Brigas são normais

- Não me trate como um retardado!
- Não me chame de doida!
- Mas você é um pouco doida.
- E você às vezes parece um retardado.
- Eu te amo.
- Eu amo mais.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Ok, estou com raiva porque as aulas voltam hoje, prontofalei.

Guia prático para o tratamento de gente mal comida

Odeio filas, negócios, dinheiro, trocas comerciais e afins. Ônibus, acima de tudo.

- Bote 20 reais, por favor.
- 20?
- Isso
- E, vocês botam crédito no celular também, né?
- Sim.
- Bote os 30 de troco no meu celular, está aqui o número.
- Ah, an, hm, o que? O troco?
- Ahan.
- Eu creditei o dinheiro todo no seu cartão do ônibus, senhora.
- Mas eu mandei botar só 20, caralho!
- Eu ouvi que era o dinheiro todo, pergunetei, você ainda confirmou...
- Não confirmei porra nenhuma, quero meu troco!
- Sinto muito, mas, não dá pra retirar os créditos...
- Moça, você não sabe o que é passar um dia inteirinho sem falar com o namorado porque está sem crédito, não é mesmo? Aposto que nem tem um namorado.
- Não, não tenho.
- Tá explicado.
- Me desculpe.
- Não, tudo bem. Agora você pegue esse papel com o meu número que lhe entreguei, cartão de ônibus, carteira de estudante, tudinho, e enfie no seu cu, sua mal comida dos infernos.


Pra que fazer confusão se há uma maneira tão prática de resolver as coisas irreversíveis, né gente?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A história da garotaTiara

Bossa Nova, movimento de valorização musical, Tropicália, movimento de valorização textual. Certo. 9 horas, fim da aula.
Uma menina estranha, porém atraente se senta ao meu lado no banco. Tento fingir estar concentrada na leitura de um livro, pra evitar que tente puxar assunto. Inútil.

Garota: Você faz que curso aqui?
Violão, respondo, sem encará-la.
Garota: Ah.
Viro uma página do livro. Ela emenda, sem nem respirar:
Garota: Eu fugi de casa.

Fito-a.

All Star sujo, cadarços entrançados, olheiras fortes, maquiagem borrada. Cabelo mal cortado, com resquícios de tintas que ali existiu um dia. Jeans desbotado, e, an... aquele cinto definitivamente não era dela.

‘Ah, mas que coisa, não?’, respondo sem demonstrar muito interesse na sua história de rebeldia.

Garota: Estou na rua desde ontem a tarde, caminhando, vendo a cidade. Conheci um monte de gente nova!
- E você não ficou com medo? – Interesso-me.
Garota: Não. Antes de escurecer conheci um garoto na parada de ônibus que me levou pra casa dele. Aí ele tinha essa aula de música hoje pela manhã. Por isso estou aqui. Não queria ficar só com a mãe dele.
- Oh sim.

Tentei encerrar o assunto, ainda olhando pro meu livro. Olhei para ela, rapidamente. Ela ria para o vento, olhando a rua em frente ao banquinho em que estávamos sentadas.
Ficou séria de repente.
Olhou pra mim.
Olhei pro livro.

Garota: Você tem problema com seu pai?
- Ah, não mesmo, não moro com ele.
Garota: Nem com sua mãe?
- Também não. Moro com meus avós.
Garota: Ah sim. Sorte a sua. – Deu um sorriso nervoso e continuou - Fugi de casa porque não agüento mais meu pai. Ele não me deixa ter amigos, não me deixa sair pra canto nenhum, nem pintar o cabelo. E ainda me bate se eu reclamo dessa vida.
- Ah, que merda. – Digo essa frase enquanto percebo uma cicatriz em seu ombro.
Garota: Mesmo assim já pintei de preto-azul, roxo e vermelho assim, um pouco mas forte que o seu. Que cor você acha que fica legal agora?

- An?- Desperto da leitura e levanto a vista.

Garota: Digo, o cabelo. Eu mesmo que corto.
- Ah sim.

Era um corte estranho, pra não dizer feio. Estilo revoltado. Criativo. Diferente. Combinava com ela.
A menina dá um pulo no banco e pergunta com um tom de animação:

Garota: Mas e aí, qual seu nome?
- Luana, prazer.
Garota: Prazer, Luana. Eu sou Tiara.
- Tiara? O seu nome é Tiara?
Garota, digo, Tiara: Isso mesmo. Mas estou espalhando desde ontem que é Bia, pra caso meu pai apareça na TV me procurando.

Olho pra ela achando isso tudo muito infantil. Era mais provável seu nome ser Bia a Tiara. Penso.

Tiara: Gostei das suas havaianas, Luana.
- Ah, valeu.

Concentro-me na leitura novamente, até me surgir uma questão.

- Você não pensa no seu pai preocupado com você? Não quer voltar pra casa?
Tiara: Não mesmo. Ele me espancaria. Além do que, ele não é meu pai de verdade. O problema é que preciso pegar meu dinheiro no fim do mês.
- Hm, entendi. Ele não é seu pai, mas é quem lhe dá grana.
Tiara: Também não. Esse que chamo de pai, é meu tio, na verdade. O que me manda a grana é meu pai que mora em Fortaleza.
- Aah. Então o pai que tu chama de pai é teu tio!?
Garota: Meu tio que eu chamo de pai é meu tio.

Aprendi com um amigo a perguntar novamente, mesmo já tendo entendido. Às vezes, a pessoa solta mais informações. Ou, às vezes, ela só te faz de otário mesmo.

- Ah sim. Curioso. E por que você não mora com seu pai em Fortaleza?
Tiara: Vim pra cá com minha mãe ano passado e não quis mais voltar. Ela mora lá com meu padrasto, que eu não gosto muito. Pra completar, descobri que esse cara que me dá pensão, quem eu acreditei a vida toda ser meu pai, nem é meu pai de verdade.

A essa altura já tinha desistido do livro. Aquela história me parecia bem mais interessante, mesmo com a possibilidade de ser furada.

- Caramba! Então você tem 3 pais?
Tiara: 4. Se contar com meu padrasto.
- E não gosta de nenhum.
Tiara: Exato.
- Nem pretende voltar pra casa.
Tiara: Não mesmo.
- E vai ficar na casa desse seu amigo pra sempre?
Tiara: Ah, isso não sei. Na verdade, ele não é meu amigo p’reu abusar tanto assim. Conheci ontem. Ele me deu a passagem de ônibus, comida, roupa e cama pra dormir.
- Você não ficou com medo?
Tiara: De jeito nenhum.
- E se ele fosse uma pessoa má?
Tiara: Não era, pude ter certeza. Reconheço pessoas más de longe.
- Já ouviu falar que quem ver cara não vê coração?
Tiara: Então no caso, eu só vi o coração dele.

Coitada, pensei. Terá sorte por quanto tempo, meu deus?
Tiro um biscoito da bolsa.

- Tá com fome, Tiara?
Tiara: Não obrigada. Comi tanto cuzcuz hoje cedo que estou enjoada. Ah, e é Bia.
- O que?
Tiara: O nome.
- Oh sim.

Como meu biscoito calada, enquanto o zelador da escola de música passa por nós e pede para que Tiara tire os pés de cima do banco.

Tiara: Que saco, aqui não pode fazer nada!
- É, tem câmeras filmando tudo em toda parte. É muito rígido.
Tiara: Ontem eu não chorei.

Quase engasgo. Que loca! O que diabos tem a ver?

- E por que choraria?
Tiara: Toda noite choro. Me sinto muito só.
- Ah.

Preocupo-me.

Tiara: Mas agora estou livre. Eu tava pensando dia desses em como a minha vida ta passando e eu não tô aproveitando. Vou botar piercing, fazer tatuagem, conhecer um monte de gente, andar por toda a cidade e nunca mais me sentir triste.
- Quantos anos você tem?
Tiara: Quase 18. Nem parece, né?
- Bom, parece sim.
Tiara: Não, não parece. Todo mundo me acha pequena. Tipo, uns 16.
- 16, 17. Que diferença faz um ano?
Tiara: Muita. Muita diferença.
- Ah.

Mordo o último biscoito. Que conceito de liberdade e ideal de felicidade estranhos, senhor.
Não devo ter feito uma cara muito motivadora.

Tiara: Você tá me achando uma maluca, né?
- Não, não. Você é curiosa, menina.
Tiara: Como assim? Meus amigos dizem que eu sou única. Mas, curiosa?
- É, não sei bem. Mas você parece uma personagem.
Tiara: Atriz?
- Não. Você tem características para a personagem de um filme, sabe? Um livro... ou talvez.... um conto.

Os olhos de Tiara brilham. Parece que falei que ela era a menina mais bonita do mundo ou sei lá.

Tiara: Você acha mesmo?
- Sim, acho.

A sirene toca.
O amigo de Tiara se aproxima e ela levanta.

Tiara: Tchau, Lu. Foi um prazer!

Lu?

- Boa sorte, Ti... Bia!

Lu? Que garota mais maluca.

Vou pra aula pensando em como o mundo deve tá cheio de garotas como Tiara, insaciáveis de uma liberdade que procuram sem cansar, e que, embora não façam idéia de onde encontrar, não desistem. Aventuram-se, na esperança de achar, um dia, o que chamam com algum descuido e pressa de felicidade, e se mostram sorrindo e empolgadas pro mundo, como se encontrar a realização completa estivesse apenas em mudar a tinta do cabelo ou saber quem ajudou a lhe botar no mundo de verdade. E que, se pegam chorando sozinhas no meio da noite, procurando um sentido não na vida, não no mundo, mas dentro de algo muito mais difícil de se entender: você mesmo.

Volto pra casa pensando em escrever sobre a Tiara que cada um de nós tem, controlada dentro de si.

sábado, 23 de agosto de 2008

Num Dia (Arnaldo Antunes)

[...]

'respirar
sentir o sabor do que comer
caminhar
se chover, tomar chuva
ter saudade no final da tarde
para quando escurecer
esquecer
ao se deitar para dormir
dormir;'


Aaaaaaaaaah, como é bom uma tarde de folga!

O que te sobra além das coisas casuais

Eu me sento, eu penso, eu paro, eu canso, eu fumo, eu não aguento.
Mentira, aguento sim.
Às vezes dá medo, aflição. Mas até o medo é gostoso.
O desafio, a vontade de que dê certo e de ver um bom resultado, motivam.
Mas às vezes cansa. Abusa, irrita, estressa, dá vontade de voltar atrás e acabar com tudo. Porém, quando isso acontece, você vê que não tem mais jeito: está totalmente mergulhada naquilo, com todas suas forças. A paixão vai crescendo e admiração aumentando. Uma decepçãozinha aqui, outra aculá, até faz parte. Mas mesmo que você olhe pra traás, desesperadamente tentando desistir de tudo, é inútil.
E, não precisa tanta paciência assim. Cada vez parece mais delicioso e necessário pro seu dia, pra sua vida, pra sua alegria.
E então, de repente, você percebe que nasceu para aquilo.
Tendo como princípio o 'nada é pra sempre', não vai durar muito. E o que fazemos? Aproveitamos. Cada segundo, cada palavra, cada atitude, cada olhar, cada brincadeira.
Porque no final, é só o que vai ficar de verdade.

Não, gente. Eu definitivamente não estou falando do amor.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Uma criança botou quebrante em mim

Crianças nunca me enganaram.

Com aquela cara de anjinha ingênua, me encarando de cima a baixo no ponto de ônibus, enquanto a mãe puxava-a desesperadamente, tentando fazer com que ela não constrangesse mais. Aposto que ela tava pensando: 'de onde é que essa maluca vem, meu pai? com esse cabelo vermelho assanhado, essas olheiras de 3 dias, essa bolsa que me caberia dentro, esse ar de bacaninha e essa cara de quem quer chegar em casa e tirar um dia de folga... aposto que ela nem tem a minha mais nova sandália da hello kitty nem a barbie verão em nova york. morro de pena dessa hipocrisia adulta, dessa mania de fazer hora extra no trabalho, abrindo mão de finais de semana agitados de pura bebedeira com os amigos. morro de pena de gente grande, sério. qual a graça? está aqui na parada se sentindo quase tão perdida e pequena quanto eu, aposto. tenho certeza que ela daria metade do seu salário pra chegar em casa, calçar pantufas, deitar no sofá, fazer pipoca e ficar assistindo reprise do pica-pau na tv. tenho total certeza, total.'

É, queridos. Não é à toa que minha tosse piorou muito de ontem pra hoje.