sábado, 21 de junho de 2008

Samba do grande amor

Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor

Mentira :D

terça-feira, 17 de junho de 2008

Totonho & os cabra

Eu mandei meu amor pro espaço
Agora o que é que eu faço
Com o vácuo da minha solidão?

Eu troquei meu quintal ensolarado
Por minha nave aos pedaços
Uma viagem rumo à escuridão

São difíceis os dias desse tempo,
Precisamos tanto de um invento
Que nos ajude a sonhar;

Egoísmo

Uma noite, um sábado.
Talvez tenha sido ali, entre aqueles dois banquinhos de pedras, alguns cigarros e umas lágrimas. Quando e onde foi, não sei explicar ao certo.
Foi parando.
O sentimento ansioso e inusitado de antes foi desacelerando, cedendo espaço ao tédio e a solidão a dois. Sentia falta de ser apenas um, de novo. Com todos seus problemas e aflições, que ninguém podia viver por ela.
Foi deixando de acontecer.
O que todos previam ser lindo e verdadeiro, foi indo embora assim, sem explicação, sem convencer, sem permanecer o tempo estimado.
E ela só pensava em se sentir bem de novo. Era só isso que importava.
E agora, poder olhar pra si e se ver sozinha, não era de todo modo tão ruim assim. Não queria mais a vida de antes. Não queria mais a vida de agora. O que restava?
Solidão, café, cigarros.
Voltou a ter insônia.
Roeu o resto das unhas.
Contou a um ou dois amigos, sobre como se sentia naquela semana.
De que adiantava?
A caixinha de música não tocava mais.


E essa dor era dela. Não topava dividir.

domingo, 8 de junho de 2008

Caio F. Abreu

[...]

'Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.'

[Pequenas Epifanias]